No momento em que nascemos, vivemos a primeira experiência de separação. Uma experiência de separação física, já que o processo de separação – individuação entre mãe e bebé decorre durante alguns largos meses, entre os cerca de 5 meses e os 3 anos de idade. Nesse período afastamo-nos, progressivamente, da relação de simbiose com a mãe e adquirimos competências psíquicas, nomeadamente as relacionadas com a segurança, que nos irão permitir começar a assumir as nossas próprias características.
Cedo percebemos que, para nos expressarmos na vida, para nos “encaixarmos” no mundo em que vivemos construímos, desde cedo, uma máscara que representa o nosso “eu ideal” – uma “persona”, a nossa personagem. Nesta personagem que vamos construindo, vamos incluir tudo aquilo que pretendemos ser ou, no mínimo… tudo aquilo que queremos que os outros vejam em nós.
Queremos parecer para pertencer, queremos ter para sermos aceites, respeitadas, temidas, queremos saber para provarmos. Outras vezes, diminuímo-nos, vitimizamo-nos para que sejam outros a cuidar de nós. As motivações são tantas quanto as que conseguirmos conceber.
Se nos identificarmos demasiado com a máscara podemos esquecer-nos (pelo menos, temporariamente) de quem somos. No mínimo, entramos em conflito com partes de nós. Quantas vezes damos por nós sem saber o que escolher? Quantas vezes desesperamos por conseguir unir duas situações aparentemente incompatíveis? E, no entanto… é nesses momentos que nos permitimos perceber que forças nos habitam, que passados, que traumas, que ambições se movem dentro de nós. É nesses momentos que nos convidamos a conhecer-nos.
O conhecimento de si-mesmo é o foco do processo de individuação. Implica unificar as grandes e as pequenas polaridades, encarando-as como tal: polaridades, aspectos complementares. Não existe unificação quando, através de mil e um mecanismos de escape – trabalho, festas, álcool, drogas, borboletas e unicórnios – nos alienamos para outras realidades e, com isso, iludimo-nos e afastamos o incontornável trabalho com a Sombra. Sem trabalho de autoconhecimento, que implica esforço, dedicação, disciplina e, muitas vezes, sofrimento, não há individuação.
O Ego é fundamental para estabelecermos uma noção de identidade – aquilo que nos diferencia dos outros e que nos faz situar, enquanto indivíduos, na realidade em que vivemos. No processo de nos tornarmos indivíduos, buscamos a Unidade.
Na psicologia junguiana, o Self representa a psique como um todo. No Self, consciente e inconsciente encontram-se unificados. Ser Uno, Indivisível. Ser Totalidade. Todos os aspectos integrados. O eu interno e o eu externo, a essência e a aparência, consciente e inconsciente, masculino e feminino, Luz e Sombra. Esta é a meta e o Ego, composto por percepções, recordações, emoções e sentimentos, ideias e pensamentos, selecciona os elementos inconscientes que serão trazidos à consciência, onde e quando estivermos preparados.
Existe, a um nível profundo, um apelo de retorno a um estado de Unidade original, movido por uma recordação de bem-aventurança, um desejo de realizar que somos mais do que o nosso Ego, um regresso ao útero, o retorno “ à casa do Pai”. Algo que não pode ser sentido nem vivenciado apenas através da mente, mas sim do coração.
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