Somos constantemente confrontadas com a suposta verdade de não sermos suficiente. Estimuladas a acreditar que, para sermos felizes, realizadas, para termos uma vida melhor, é preciso mais. Ter mais. Comprar mais. Comunicar mais. Saber mais. Ser mais.
Se nos perguntarmos quando é que todo este modo de ver a vida começou, provavelmente iremos chegar à conclusão que o primeiro input neste sentido veio dos nossos pais que, na melhor das suas intenções, responderam a um pedido nosso de atenção…O bébe chora e a mãe aparece. O bébe chora e a mãe não aparece… bem, e que tal se chorar mais? Ou será que já não desperta a atenção de quem lhe cabe suprir as suas necessidades primordiais?
O tempo vai passando, as aprendizagens refinam-se. Será que se sorrir mais terá mais atenção? Se for bem-comportada irá receber (as queridas avós costumam ser peritas nisto…) um saco de gomas? Se fizer aquilo, terá uma mão cheia de cromos para a caderneta do Mundial de Football ou as últimas calças xpto da marca sucesso do momento (bónus extra: será o foco das atenções do grupinho da turma). Se conseguir x mil seguidores, então sim, será alguém que vale a pena ter por perto.
Algo que começou como um estímulo para o desenvolvimento de capacidades facilmente poderá originar pessoas infelizes, perdidas de si próprias e afogadas num mar de crenças limitadoras e emoções que poderão ser tudo menos saudavelmente benéficas para o equilíbrio de quem as vive.
As nossas emoções são o feedback da acção que lhes deu origem; se estiver com medo manipulo-te? Se estiver frustrada afogo-me na comida? O que fazer com a emoção que se está a sentir?
Os nossos valores determinam quais os critérios que escolhemos para avaliar quem somos, para avaliar o nosso comportamento e tudo aquilo que nos rodeia. Como avaliamos o que é o sucesso? E o fracasso? De que forma estes e outros valores condicionam as nossas escolhas e as nossas acções?
Se queremos mudar a nossa realidade teremos de ser capazes de olhar para dentro de nós mesmas para percebermos o grau de coerência entre os nossos valores e as nossas acções. Então, depois, poderemos perceber que nos conquistámos a nós mesmas e nada do exterior poderá ser visto ou sentido como uma ameaça à nossa identidade.
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