Para muitas pessoas, a profissão representa uma parte importante das suas vidas. Seja porque é uma fonte privilegiada de rendimento, seja porque contribui para um sentido de valor pessoal e social que se reflectem no prestígio que se alcança entre pares, família e amigos, ou porque é um palco de oportunidades de autodesenvolvimento ou, ainda, porque se valorizam temas como a ajuda ao próximo ou a contribuição para a sociedade. São múltiplas as razões.
No entanto… são também vários os desafios que se colocam. A sociedade está em constante mudança, a tecnologia está cada vez mais desenvolvida e disponível, a informação circula a uma velocidade vertiginosa e os dias continuam… com 24 horas.
Quantas vezes os modelos de funcionamento das empresas nos fazem sentir aquém daquilo que seriam as expectativas a que deveríamos conseguir corresponder? E tempo para pensar sobre isso? Se, aparentemente, não existe, há que criá-lo.
A verdade é que, em pouco tempo, passámos de um “mundo” VUCA, em que a realidade é vista como:
Volátil – As mudanças acontecem a uma velocidade muito rápida;
(Uncertainty) Incerta – Já que as mudanças, de tão rápidas que são, fazem com que seja difícil ou quase impossível, prever com certeza o que está para vir;
Complexa – Com uma multiplicidade de factores dinâmicos a ter em conta, antes de tomar uma decisão que se venha a mostrar eficaz; e
Ambígua – A informação disponível é tanta e muita dela contraditória, imprecisa e / ou incompleta, tornando difícil fazer escolhas acertadas.
Para um “mundo” BANI. E o que é isto de BANI? O termo começou a ser utilizado por volta de 2018 e pretende traduzir uma nova realidade, que se apresenta como:
B (brittle) / Frágil – Aquilo que é, normalmente, considerado como seguro e previsível, estável e sólido o é até que… deixa de o ser. Num ápice, tudo pode mudar drasticamente;
A (ansiosa) – A consciência da impermanência e da imprevisibilidade das situações (e da vida em geral) e as mudanças repentinas de rotinas são promotoras de incerteza e as principais causas de stress e ansiedade;
N (não-linear) – O “bater de asas da borboleta…”. Sabemos que mesmo as pequenas acções, os mais improváveis, imprevisíveis eventos , mesmo os aparentemente insignificantes acontecimentos podem trazer consigo consequências totalmente inesperadas.
I (incompreensível) – Num mundo em constante transformação, com informação a acrescentar e a mudar a cada minuto que passa, nem sempre a capacidade de resposta é, quantitativa e qualitativamente, alinhada com o facto que lhe deu origem. Esta situação contribui, também, para elevar os níveis de ansiedade – há que ser capaz de “acompanhar”, “saber mais”, “ser mais”…
Como viver nesta realidade? A resposta passa por incluir a capacidade de recolhimento nas nossas vidas. Sempre que procuramos respostas para situações mais ou menos complexas, recolhermo-nos, reflectirmos, interiorizar-nos trará sempre uma maior capacidade para lidar com os desafios. E, na vida profissional, não é excepção.
Somos seres em constante mudança. O mundo é feito de mudança. É importante lembrarmo-nos que é legítimo ter dúvidas, querer maior realização (há que definir o que é isto de realização…), mudar de profissão, traçar outros objectivos de vida e de carreira. Porque não?
Seja porque um qualquer evento trouxe uma mudança naquilo que eram as rotinas laborais, seja porque fomos forçadas a sair da empresa, seja porque queremos algo diferente nesta área de vida, para que voltemos a encontrar-nos é necessário perceber a fundo o que está em causa, a fim de conseguirmos tomar a melhor decisão que nos é possível.
Algumas questões que serão interessantes explorar:
- Valores pessoais: Aquilo em que acredito espelha-se no meu trabalho ou é incongruente com os meus valores?
- Objectivos de vida: O que faço, em termos profissionais, está alinhado com os objectivos globais da minha vida?
- Objectivos profissionais: Quais são, a curto, médio e longo prazo?
- Avaliar capacidades e competências: São as adequadas para a função em causa? Estão actualizadas? Que oportunidades de desenvolvimento estão à minha espera? Que outras posso criar?
Há que dar seguimento ao produto destas e outras reflexões. Não o fazer pode esconder medo de agir e o receio em lidar com as consequências. Desculpas apenas adiam a possibilidade de viver uma vida profissional mais gratificante.
Os resultados de qualquer processo de recolhimento e introspecção deverá reflectir-se sempre na definição de objectivos e na realização de acções concretas.
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