Jung disse: “Tudo aquilo que nos irrita nos outros pode conduzir-nos a um maior entendimento de nós”. Somos seres sociais. Conhecemo-nos e desenvolvemo-nos, em grande parte, através das relações, sejam elas pessoais, profissionais ou sociais. A partir do momento em que tomamos consciência de que não estamos sozinhos, somos confrontados com a necessidade de termos em conta a existência de outros que, com as suas vontades, desejos e necessidades, vêm reforçar ou pôr em causa a nossa visão do mundo.
Desde muito cedo começamos a construir o nosso sentido de identidade através do que nos é devolvido pelo ambiente, em resposta aos comportamentos que adoptamos e que são construções feitas com base nas competências que adquirimos, fruto das escolhas que fazemos mediante os valores e crenças que tornámos nossos.
Os maiores desafios nos relacionamentos ocorrem quando sentimos que são postos em causa valores fundamentais e / ou quando as nossas crenças são abaladas, quando confrontadas com realidades ou expectativas não correspondidas.
Esperar que os outros sejam iguais a nós, resistência a criar compromissos por medo de perder território, esperar sermos ouvidos e entendidos quando nem somos capazes de nos expressar com clareza e simpatia ou comunicar aquilo que verdadeiramente nos vai na alma não irá certamente ser um objectivo facilmente realizável. O modo como lidamos com esses desafios irá depender da certeza das nossas convicções bem como da capacidade para nos pormos em causa, permitindo-nos entender o ponto de vista do outro e dar espaço e oportunidade para chegarmos a novos níveis de entendimento.
Na base das dificuldades de resolução de conflitos está muitas vezes o medo – uma emoção primordial cuja principal função é a de nos proteger de perigos. Hoje em dia o perigo já não estará no leão que nos poderia matar, mas no medo da perda na nossa noção de identidade (se eu ceder a isto em quem me torno?), no medo de não ser suficiente, não ser capaz, de ser demasiado… (crenças limitadoras), e que isso acarrete a possibilidade de rejeição, exclusão e abandono.
Para nos “protegermos” controlamos e manipulamos, abusamos do outro, vitimizamo-nos e construimos relações de co-dependência. Outras emoções se vão sobrepondo – a raiva, a tristeza, o ressentimento, mas também sentimentos de culpa e frustração. Quando damos por nós, estamos esgotados, stressados, doentes. Somos tudo menos livres.
Transmutar emoções e sentimentos implica sermos capazes de ter a coragem de fazermos diferente, primeiro connosco, depois com os outros. Implica parar e perceber qual é o nosso discurso interno, com quem é que afinal estamos realmente zangados, quais são os diálogos que repetidamente passam na nossa cabeça, a que é que nos apegamos para podermos continuar a justificar as nossas palavras e as nossas acções.
Transmutar emoções e sentimentos implica tomar consciência da repetição de padrões nos relacionamentos interpessoais, observáveis na repetição dos resultados que vamos obtendo. Muitas vezes algo que se passou, há um tempo tão longínquo que já o esquecemos, perpetua-se, cobrindo-se com outras capas, manifestando-se através de outras pessoas, até que nos ensine aquilo que precisamos aprender.
Alterar padrões, mudar formas de pensar, modificar comportamentos exige capacidade para nos pormos em causa, é certo. Mas, para que isso aconteça de uma forma saudável e consciente, temos que hierarquizar os nossos valores, perceber o grau de importância de cada acontecimento e criar disponibilidade para fazer as pazes com as várias partes em conflito dentro de nós.
Precisamos dar-nos tempo e permitirmo-nos criar espaço para podermos sair de nós mesmos, ganhar algum distanciamento para colocarmos as coisas em perspectiva. Precisamos libertar-nos da culpa e assumir a responsabilidade por fazermos melhor.
A mudança só é real quando tem por base a coerência e a congruência internas. Só assim seremos autênticos e só assim poderemos ser livres.
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